Família Acolhedora: serviço de lar temporário transforma vidas de crianças em Salvador
O lar pode ser provisório, mas a satisfação de ajudar o
próximo será permanente na vida de quem o faz, como é o caso de casais ou
pessoas solteiras que se voluntariam para acolher temporariamente em seus lares
crianças afastadas judicialmente do convívio familiar original pelos mais
variados motivos ou abandonadas em hospitais da capital baiana nos primeiros
dias de vida.
O serviço Família Acolhedora é ligado à Fundação Cidade
Mãe (FCM) e tem ajudado os pequenos a terem um lar seguro enquanto a 1ª Vara da
Infância e Juventude da Comarca de Salvador não dá um parecer sobre os seus
destinos, que pode ser o retorno à família ou a inclusão na fila de
adoção. Desde 2021, quando teve início o serviço, 36 crianças foram
acolhidas.
Os requisitos para se tornar uma família acolhedora são:
ter mais de 18 anos e residir em Salvador. É imprescindível, no entanto, que os
interessados não estejam no cadastro único de adoção e que não tenham qualquer
interesse em adotar as crianças ou adolescentes enviados para seus lares. Todos
precisam ter ciência de que o vínculo é temporário.
Antes de receberem as crianças, os voluntários passam por
uma capacitação com o corpo técnico da Fundação Cidade Mãe. Durante esse
processo, um psicólogo é designado para acompanhamento, especialmente para
prepará-los para a adaptação e o momento de despedida.
“É um serviço que a família presta à sociedade ao cuidar
dessa criança, porque em uma unidade de acolhimento são dez crianças para um
educador, enquanto em uma família são quatro ou cinco membros para uma criança.
Então, percebemos um desenvolvimento totalmente diferente”, explica Virginia
Nascimento, assistente social e coordenadora do serviço.
“Gostamos de comparar a situação com a de um sobrinho que
mora no interior, cuja família está enfrentando algum problema, e cuidamos
dessa criança por um período determinado até que tudo se resolva. As
contribuições que essas pessoas podem oferecer às crianças são inúmeras, assim
como o que elas podem receber”, completa.
O número de famílias acolhedoras ainda é baixo, de acordo
com a coordenadora, mas o perfil delas é diverso, incluindo pessoas solteiras,
casais homoafetivos e famílias com ou sem filhos. Atualmente, nove crianças
estão em processo de acolhimento.
Uma delas é Lara (nome fictício), de seis anos, que chegou
na casa da advogada Yanna Tarouquela há quatro meses. A princípio, a adaptação
não foi fácil, já que a garota carregava muitos traumas, como dificuldade em
estabelecer confiança em adultos.
Mesmo morando sozinha, Yanna conta com uma rede de apoio,
composta por amigos e vizinhos, que lhe dá suporte durante esse processo. Essa,
inclusive, não é a primeira criança que ela acolhe. Em outro momento, a
advogada deu suporte a um garoto de um ano e oito meses.
“Na época da faculdade, conheci o serviço Família
Acolhedora, quando ele ainda não existia em Salvador, e aquela sementinha foi
plantada. Fiz trabalho voluntário em um orfanato, mas percebi que a efetividade
era muito pequena, porque eu não conseguia mudar necessariamente a vida
daquelas crianças. Era um trabalho muito mais voltado para a estrutura do que
para o pequeno em si”, comenta.
“Depois da pandemia, quando eu já estava preparada, entrei
em contato com a Fundação Cidade Mãe, e a equipe me recebeu muito bem, além de
tirar todas as minhas dúvidas”, completa Yanna.